Olhinho, Doisolhinhos, Trêsolhinhos


Enøje, Toøje og Treøje


Era, uma vez, uma mulher que tinha três filhas. A mais velha chamava-se Olhinho, porque só tinha um ôlho no meio da testa; a segunda chamava-se Doisolhinhos, porque tinha dois olhos, como todo mundo; e a terceira, chamava-se Trêsolhinhos, porque tinha três olhos: o terceiro estava no meio da testa.
Mas como Doisolhinhos era igual ao resto da humanidade, a mãe e as outras irmãs, detestavam-na. Por isso diziam:
- Tu, com os teus dois olhos, não és nada diferente da gente vulgar! Nada tens em comum conosco!
Viviam a enxotá-la de um lado para outro aos empurrões; atiravam-lhe os piores vestidos e, para se alimentar, davam-lhe as sobras de comida; torturavam-na, enfim, de mil maneiras.
Um belo dia, Doisolhinhos tinha que ir levar as cabras a pastar; mas estava fraca de tanta fome porque as irmãs lhe haviam deixado pouquíssimas sobras para comer. Então sentou-se à borda do campo e pôs-se a chorar; chorou tanto que as lágrimas, escorrendo-lhe pelas faces, formaram dois regatos.
Enquanto estava assim chorando, deu com uma mulher na sua frente, que lhe perguntou:
- Por que estás chorando?
Doisolhinhos respondeu:
- E não tenho razão para chorar? Só porque tenho dois olhos, como todo mundo, minha mãe e minhas irmãs detestam-me, empurram-me de um canto para outro, atiram-me vestidos velhos e dão-me apenas restos de comida para me alimentar. Hoje comi tão pouco, que estou morrendo de fome.
A mulher, que era uma feiticeira, então disse:
- Enxuga teus olhos, minha menina; vou dizer-te uma coisa, para que não padeças mais fome. E' isto: basta que digas à tua cabrinha:
- Linha cabrinha, põe a mesinha!
e logo surgirá à tua frente uma mesinha ricamente posta, coberta com o que há de melhor no mundo, e ninguém te impedirá de comer até te fartares. Assim que estiveres satisfeita, dize:
- Linha cabrinha, tira a mesinhal
e a mesinha desaparecerá. Dito isto, a feiticeira retirou-se e a mocinha ficou a pensar: "Vou experimentar já fazer o que ela disse, para ver se é verdade, pois estou morrendo de fome!" Dito e feito. Aproximou-se da cabra e disse:
- Linha cabrinha, põe a mesinha!
Mal acabou de pronunciar essas palavras, surgiu a mesinha e, sôbre a linda e alva toalha que a cobria, viu um talher e um prato, tudo de prata, e mais diversas ter- rinas cheias de iguarias deliciosas, bem quentinhas, como se saissem nesse momento do fogo.
Doisolhinhos ajoelhou-se e rezou uma oração bem curta, pois a fome não permitia mais: "Senhor e Deus meu, - disse ela - que sejas o meu hóspede, agora e para sempre, Amém." Em seguida, serviu-se e comeu com grande apetite. Depois de satisfazer-se, repetiu as palavras que lhe ensinara a feiticeira:
- Linha cabrinha, tira a mesinha!
E a mesa, com tudo o que tinha em cima, desapareceu.
"Oh, - pensou ela muito feliz, - essa é uma bela maneira de preparar a comida!"
À noitinha, quando regressou à casa levando a cabra, lá encontrou apenas um pratinho de barro, com o pingo de sobras deixado pelas suas irmãs; mas não tocou néle. No dia seguinte, tornou a levar a cabra a pastar, sem tocar nos restos que lhe deram para comer.
Ora, nas primeiras vêzes isso não despertou a atenção das irmãs, mas, como o caso se repetisse, elas ficaram desconfiadas e disseram:
- Há coisa nisto! Doisolhinhos não toca mais na comida que antes devorava; decerto encontrou outra saída!
Para descobrir a verdade, Olhinho foi incumbida de segui-la ao campo e prestar bem atenção ao que ela fazia, e ver se alguém lhe dava a comida e a bebida.
Assim que a irmã se pôs a caminho, Olhinho aproxi- mou-se-lhe dizendo:
- Vou contigo ao campo; quero ver se cuidas bem das cabras e as deixas pastar convenientemente.
Doisolhinhos percebeu a intenção da irmã e uma vez no campo, levou a sua cabra para o meio de um capim muito alto e disse:
- Vem Olhinho, sentemo-nos aqui; eu te cantarei qualquer coisa.
Olhinho sentou-se, pois estava muito cansada pela caminhada que dera e pelo calor que fazia; a irmã então pôs-se a cantar:
- Olhinho, velas tu? Olhinho, dormes tu?
e ela, fechando o ôlho, adormeceu. Certificando-se de que a irmã dormia realmente e não poderia revelar nada, Doisolhinhos chamou a cabra:
- Linha cabrinha, põe a mesinha!
Comeu tudo o que quis, bebeu o que lhe apetecia, e tornou a dizer:
- Linha cabrinha. lira a mesinha!
Imediatamente, desapareceu a mesa e tudo o que havia em cima dela. Em seguida despertou a irmã dizendo: '- Olhinho, vieste tomar conta das cabras e ver se pastam o suficiente e acabas dormindo! Contigo, elas poderíam perder-se tranqüilamente! Vem, levanta-te, vamos para casa.
Voltaram as duas para casa e também desta vez Dois- olhinhos deixou intacto o prato de comida. Olhinho não pôde explicar à mãe a razão por que a irmã não comia, e desculpou-se dizendo:
- Eu nada vi; pois lá no campo, deu-me sono e eu dormi um pouco.
No dia seguinte, a mãe disse a Trêsolhinhos:
- Vai tu com a tua irmã e presta bem atenção se ela come alguma coisa, ou se alguém lhe dá o que comer e beber.
Quando Doisolhinhos se aprestava a sair com as cabras, Trêsolhinhos disse-lhe:
- Vou contigo; quero ver se cuidas bem das cabras e as deixas pastar bastante.
A irmã compreendeu a intenção dela e, chegando ao campo, levou a cabra para o meio do capim bem alto, depois disse:
- Sentemo-nos aqui, Trêsolhinhos, quero cantar-te alguma coisa.
Cansada pela caminhada e pelo calor, Trêsolhinhos sentou-se e a irmã pôs-se a cantar o seu estribilho:
- Trêsolhinhos, velas lu?
Mas, ao invés de cantar:
- Trêsolhinhos, dormes tu?
Cantou distraidamente:
- Doisolhinhos, dormes tu?
E foi cantando, distraidamente:
- Trêsolhinhos, velas tu? Doisolhinhos, dormes tu?
Então, dois olhos fecharam-se e dormiram, mas o terceiro ficou aberto, pois a canção não se dirigira a êle. Trêsolhinhos, astuciosamente, fechou-o como se estivesse dormindo realmente êsse também. Entretanto, com êle espiava e enxergava tudo. Quando a irmã pensou que ela estivesse perfeitamente adormecida, pronunciou as palavras conhecidas:
Surgiu a mesa e ela comeu e bebeu fartamente, depois fêz desaparecer tudo, dizendo:
Trêsolhinhos vira tudo. A outra aproximou-se; despertou-a e disse:
- Linha cabrinha, põe a mesinha!
- Linha cabrinha, tira a mesinha!
- Trêsolhinhos, adormeceste? Como guardas bem as cabras! Vem daí, vamos para casa.
Chegando a casa, Doisolhinhos não comeu nada; mas a irmã contou à mãe que uma cabra lhe servia a melhor comida, numa mesa magnífica.
A mãe, cheia de inveja e de ódio, gritou:
- Ah, queres passar melhor do que nós? Hás de perder êsse gôsto!
Foi buscar um facão de açougueiro e matou a cabra.
Vendo isso, Doisolhinhos saiu desesperada, foi sentar-se à borda do campo e desatou a chorar. Repentinamente surgiu à sua frente a feiticeira, dizendo:
- Por que estás chorando, Doisolhinhos?
- E não tenho razão para chorar? Minha mãe matou a cabra que todos os dias me proporcionava tão gostosos alimentos; agora voltarei a padecer fome!
- Vou dar-te um ótimo conselho; - disse a feiticeira. - Volta para casa pede que te dêem os intestinos da cabra e enterra-os diante da porta; será a tua felicidade.
Dizendo isto desapareceu, e Doisolhinhos foi para casa.
- Queridas irmãs, - disse ela - dai-me alguma coisa da minha querida cabra! Não exijo o melhor; quero apenas os intestinos.
As irmãs puseram-se a rir dêsse estranho pedido e disseram:
- Podes pegá-los, já que não queres outra coisa!
A noite, quando estavam tôdas recolhidas, Doisolhinhos pegou os intestinos da cabra e, ocultamente, enter- rou-os diante da porta de casa, tal como lhe aconselhara a feiticeira.
No dia seguinte, quando despertaram, as irmãs, chegando à janela, viram uma árvore estupenda, maravilhosa, coberta de folhas de prata, no meio das quais balou- çavam lindas maçãs de ouro; tão lindas como certamente não existiam iguais no mundo. Mas não sabiam de que maneira havia surgido ali, durante a noite. Somente Doisolhinhos compreendeu que a árvore surgira dos intestinos da cabra, enterrados justamente naquele lugar.
A mãe, então, disse a Olhinho:
- Minha filha, trepa na árvore e colhe algumas frutas para nós.
Olhinho obedeceu; mas, quando ia colhêr uma fruta, os galhos fugiam-lhe das mãos; por mais que fizesse, sempre que ia agarrar uma fruta, esta fugia-lhe e não conseguiu apanhar uma. Então a mãe disse à outra filha:
- Trêsolhinhos, vai tu; com os teus três olhos poderás ver melhor que tua irmã.
Ela trepou na árvore, mas não teve melhor êxito. Por mais que olhasse e fizesse, as maçãs de ouro fugiam- -lhe das mãos e ela nada conseguiu.
A mãe acabou por perder a paciência e trepou ela mesma na árvore; mas teve a mesma sorte das filhas. Então Doisolhinhos ofereceu-se para colher as frutas. As irmãs disseram, desdenhosamente:
- Que podes fazer tu, com êsses dois olhos?
Ela não se importou e trepou na árvore; as maçãs não se retraiam dela; ao contrário, apresentavam-se espontâneamente ao alcance de sua mão de maneira que ela conseguiu encher o avental. A mãe tomou-lhas tôdas e, em vez de tratá-la melhor, como era sua obrigação, ela e as outras duas filhas, cheias de inveja, começaram a maltratá-la ainda mais.
Certo dia, encontravam-se as três môças ao pé da árvore, quando viram aproximar-se garboso cavaleiro.
- Depressa, Doisolhinhos, - exclamaram as outras; - corre, vai esconder-te debaixo do barril, pois não queremos envergonhar-nos por tua causa.
E, mais que depressa, empurraram a irmã, jogando- -lhe em cima um barril vazio, escondendo também as maçãs que haviam colhido.
O cavaleiro já estava bem próximo e as duas irmãs viram que êle era muito formoso. Deteve-se ao pé da árvore e ficou a admirar os belos frutos de ouro, depois disse:
- A quem pertence esta bela árvore? Quem me der um galho dela, pode pedir-me em troca o que quiser.
Olhinho e Trêsolhinhos responderam que a árvore pertencia a elas e que de bom grado lhe davam o galho pedido. E as duas esforçaram-se, mas inutilmente, para apanhar um galho, pois êste sempre lhes fugia das mãos, e, por mais que fizessem, nada conseguiram.
Então, o cavaleiro disse:
- E' estranho que, pertencendo-vos esta árvore, não possais arrancar-lhe um galho!
As duas môças continuaram insistindo que a árvore lhes pertencia realmente; mas, enquanto assim falavam, Doisolhinhos empurrou para fora do barril as maçãs de ouro e estas rolaram até aos pés do cavaleiro, porque a irritava ouvir Olhinho e Trêsolhinhos afirmarem o que não era verdade.
O cavaleiro ficou surpreendido ao ver aquelas maçãs rolando para junto dêle e perguntou de onde vinham. Olhinho e Trêsolhinhos responderam que tinham outra
irmã mas que não podia mostrar-se porque só tinha dois olhos, como a gente ordinária. O cavaleiro, porém, quis vê-la e gritou:
- Doisolhinhos, vem cá; apresenta-te!
Muito contente e cheia de esperanças, ela saiu debaixo do barril, deixando o cavaleiro admirado de sua grande beleza. Êste perguntou-lhe:
- Tu, Doisolhinhos, com certeza podes dar-me um galho dessa linda árvore!
- Posso, sim, - respondeu ela - porque essa árvore é minha.
Trepou, àgilmente, pelo tronco acima e, sem a menor dificuldade, apanhou um galho com as mais lindas folhas de prata, carregado de frutas de ouro, e entregou-o ao môço, o qual disse:
- Que devo dar-te, em troca disto?
- Ah, - respondeu Doisolhinhos - aqui padeço fome o dia inteiro e tôda espécie de maus tratos; se quisésseis levar-me embora, eu seria muito feliz.
O cavaleiro colocou-a no arção da sela e levou-a para o castelo de seu pai. Lá, mandou que lhe dessem trajes suntuosos e a melhor alimentação. Tendo-se apaixonado loucamente por ela, desposou-a em meio a grandes festas e alegria.
Quando o cavaleiro levou consigo Doisolhinhos, a sorte desta aumentou incrivelmente a inveja das duas irmãs, que se consolaram, pensando: "Resta-nos, todavia, a árvore maravilhosa e, embora não possamos colher seus lindos frutos, ela atrairá a atenção de todos os transeuntes, que virão até cá para admirá-la; quem sabe se não teremos também uma feliz sorte?"
Mas, na manhã seguinte, viram, desapontadas que a árvore tinha desaparecido desvanecendo-se assim as suas esperanças. E Doisolhinhos, ao olhar para fora da janela, viu com grande alegria que a sua árvore a havia acompanhado e estava lá diante dela.
Doisolhinhos viveu longamente, muito feliz, mas certo dia, apresentaram-se ao castelo duas mendigas pedindo esmola. Olhando para elas atentamente, Doisolhinhos reconheceu suas irmãs, Olhinho e Trêsolhinhos, reduzidas a tamanha miséria que eram obrigadas a mendigar de porta em porta.
Ela, porém, acolheu-as amàvelmente. E no castelo foram muito bem tratadas e assistidas, acabando por arrepender-se, sinceramente, de todo o mal causado à boa irmãzinha durante a sua juventude.
Der var engang en kone, som havde tre døtre. Den ældste hed Enøje, fordi hun kun havde et øje midt i panden, den anden havde to øjne som andre mennesker og hed Toøje, og den tredie havde desforuden et lige midt i panden og hed derfor Treøje. Men hverken moderen eller søstrene kunne lide Toøje, fordi hun så ud som andre mennesker. "Du er en rigtig tarvelig en, du med dine to øjne," sagde de og puffede og stødte til hende. Hun fik ikke andet at spise, end hvad de levnede, hende s klæder var pjaltede og hullede, og de gjorde hende al den fortræd, de kunne.
En dag skulle Toøje ud på marken og vogte en ged. Hun var meget sulten, for hun havde næsten ingenting fået at spise, og da hun kom ud på marken, satte hun sig ned og græd så stærkt, at tårerne strømmede ned ad hendes kinder. Pludselig fik hun øje på en gammel kone, der stod ved siden af hende. "Hvad græder du for, lille Toøje," spurgte hun venligt. "Jeg er så ulykkelig," hulkede Toøje, "fordi jeg har to øjne som andre mennesker, kan hverken min mor eller mine søstre lide mig, og puffer og slår mig og lader mig gå i gamle pjalter. Og jeg får aldrig noget ordentligt at spise, jeg er så sulten, så sulten." - "Tør nu dine øjne, lille Toøje," sagde den gamle kone, "jeg skal nok sørge for, at du ikke mere kommer til at sulte. Du skal blot sige til din ged:
Lille gedemor,
skynd dig nu, dæk bord,
så står der et bord med den dejligste mad, og du kan spise så meget du har lyst til. Og når du er blevet mæt og siger:
Lille gedemor,
tag nu bort mit bord,
forsvinder det øjeblikkeligt." Derpå gik konen sin vej, og Toøje ville straks prøve, om det var sandt, hvad hun havde sagt, og sagde:
"Lille gedemor,
skynd dig nu, dæk bord."
Næppe havde hun sagt det, før der stod et nydeligt lille bord med tallerken og kniv og gaffel og den dejligste mad, så varm, som den lige var kommet ud af køkkenet. Toøje sagde nu den korteste bordbøn, hun kunne: "Kom herre, og vær vor gæst," og lod sig maden rigtig smage. Da hun var mæt, sagde hun:
"Lille gedemor,
tag nu bort mit bord,"
og straks forsvandt det altsammen. "Det er en nem husholdning," tænkte Toøje glad, og var igen i godt humør.
Da hun om aftenen kom hjem med geden, stod der en jernskål med levninger til hende, men hun rørte det ikke. Da hun om morgenen gik ud på marken, lod hun også de bidder, søstrene havde kastet hen til hende, ligge. Første og anden gang tænkte søstrene slet ikke over det, men da det gik sådan hver dag, begyndte de at lægge mærke til det og tænkte: "Der må være hændt Toøje noget. Ellers spiste hun op til sidste mundfuld, og nu rører hun ikke maden." For at få sagen opklaret ville Enøje gå med ud på marken, når hun drev geden ud, og se, om der var nogen, der bragte hende mad.
Da Toøje næste morgen ville begive sig af sted, sagde Enøje: "I dag vil jeg gå med og se, om geden får noget ordentligt at spise." Da Toøje mærkede, hvad der var meningen med det, drev hun geden ind i noget højt græs og sagde: "Lad os sætte os her, Enøje, så skal jeg synge for dig." Enøje var træt af varmen og den lange vej, og Toøje sang hele tiden:
"Er du vågen, Enøje?
Sover du, Enøje?"
Da lukkede hun øjet og faldt i søvn. Da Toøje så det, sagde hun:
"Lille gedemor,
skynd dig nu, dæk bord,"
og satte sig ved bordet og spiste og drak, til hun var mæt. Så sagde hun blot:
"Lille gedemor,
tag nu bort mit bord,"
og straks forsvandt det hele. Hun vækkede nu Enøje og sagde: "Du er en rar en til at passe på. Mens du sov, kunne geden jo løbet sin vej mange gange. Lad os så gå hjem." Toøje lod også denne aften maden stå, men Enøje kunne ikke fortælle noget. "Jeg faldt i søvn," sagde hun undskyldende.
Den næste dag sagde moderen til Treøje: "I dag skal du gå med og passe på, om der er nogen, som bringer hende mad, for spise og drikke må hun da." - "Jeg går med dig og ser, om geden får foder nok," sagde Treøje, da Toøje ville gå. Toøje drev igen geden hen i det høje græs og sagde: "Lad os sætte os her, så skal jeg synge for dig." Treøje var træt af heden og den lange vej, og Toøje begyndte at synge:
"Er du vågen, Treøje?"
men i stedet for at synge:
"Sover du, Treøje?"
tog hun fejl:
"Sover du, Toøje?"
og sang hele tiden:
"Er du vågen, Treøje?
Sover du, Toøje?"
Da lukkede Treøje sine to øjne, men det tredie stod åbent. Hun lod rigtignok, som om hun sov med dem alle tre, men hun kunne meget godt se, hvad der foregik. Toøje troede, at hun sov, og sagde:
"Lille gedemor,
skynd dig nu, dæk bord,"
spiste og drak og lod det igen forsvinde.
"Lille gedemor,
tag nu bort mit bord."
Treøje havde set det alt sammen. Toøje kom nu hen og vækkede hende og sagde: "Du er en rar en til at vogte geden. Lad os nu gå hjem." Om aftenen spiste Toøje heller ingenting, og Treøje sagde til sin mor: "Nu ved jeg, hvorfor den væmmelig tøs ikke spiser noget. Hun siger blot til geden:
"Lille gedemor,
skynd dig nu, dæk bord,"
så står der er bord med den dejligste mad, meget bedre end vi får herhjemme, og når hun er mæt, siger hun:
"Lille gedemor,
tag nu bort mit bord,"
så forsvinder det igen altsammen. To af mine øjne fik hun til at lukke sig, men det i panden var heldigvis åbent." - "Skal hun have det bedre end vi," råbte moderen rasende, tog en kniv og stak den i gedens hjerte, så den døde.
Da Toøje så det, gik hun bedrøvet ud på marken og gav sig til at græde. Pludselig stod den gamle kone igen ved siden af hende og spurgte: "Hvad græder du for?" - "Hvad skal jeg gøre," hulkede Toøje, "min mor har dræbt geden, der skaffede mig al den dejlige mad, nu må jeg sulte igen." - "Nu skal jeg give dig et godt råd, Toøje," sagde konen, "du skal bede dine søstre om gedens indvolde og grave dem ned udenfor døren, så skal du nok blive glad igen." Derpå forsvandt hun, og pigen gik hjem og sagde: "Må jeg ikke få lidt af min ged. Bare indvoldene." Søstrene lo. "Det skidt kan du gerne få," sagde de og kastede det hen til hende. Toøje tog det og gravede det i al hemmelighed ned i jorden, som konen havde sagt.
Da de vågnede næste morgen, stod der et dejligt træ udenfor døren, bladene var af sølv og store guldæbler skinnede imellem dem. Ingen vidste, hvor det var kommet fra, undtagen Toøje, der nok kunne tænke sig, at det var vokset op af gedens indvolde. "Kan du klatre op og plukke nogle æbler," sagde moderen til Enøje. Men hver gang hun ville gribe et af dem, svippede grenen fra hende, og hun kunne ikke få fat i et eneste. "Gå du så op, Treøje," sagde moderen, "du kan vel se bedre med dine tre øjne end hun med sit ene." Enøje rutschede ned af træet og Treøje klatrede derop, men det gik hende ikke en smule bedre. Til sidst blev moderen utålmodig og kravlede selv derop, men hun havde ikke mere held med sig end de andre. "Nu skal jeg prøve," sagde Toøje. "Hvad bilder du dig ind med dine to øjne," råbte søstrene hånligt, men hun klatrede derop, og æblerne faldt af sig selv ned i hendes hånd, så hun havde hele forklædet fuldt, da hun kom ned. Moderen tog dem, men i stedet for at behandle den stakkels pige bedre, var de misundelige, fordi hun var den eneste, der kunne plukke æblerne, og hun fik det endnu værre end før.
En gang, da de stod ude ved træet, kom der en ung ridder forbi. "Skynd dig lidt at komme ned," råbte søstrene, "vi må jo skamme os over dig." I en fart gemte de hende under et tomt kar, der stod ved siden af træet, og skubbede også æblerne derind. Da ridderen kom nærmere, så de, at han var meget smuk. Han standsede og så beundrende på det dejlige træ. "Hvis er det træ?" spurgte han. "Jeg ville give, hvad det skulle være, for at få en gren af det." Enøje og Treøje svarede, at det var deres, og at han gerne måtte få en gren. De gjorde sig al mulig umage for at få fat i en men det ville ikke lykkes dem. "Det er mærkeligt, at I ikke kan få fat i en eneste gren, når det tilhører jer," sagde ridderen. De blev ved at forsikre at træet var deres, men Toøje blev vred, fordi de ikke talte sandhed, og rullede et par guldæbler lige hen foran ridderen. Han spurgte forbavset, hvor de kom fra, og søstrene fortalte nu, at de havde en søster til, men de skammede sig over at vise hende for nogen, fordi hun kun havde to øjne ligesom ganske almindelige mennesker. Men ridderen ville se hende og råbte: "Kom, Toøje." Hun kom nu frem fra sit skjulested, og ridderen blev forbavset over hendes skønhed og sagde: "Du kan sikkert give mig en gren af det træ." - "Ja, det kan jeg," svarede Toøje, "for træet er mit." Derpå knækkede hun en gren af og rakte ham den. "Hvad skal jeg give dig for den," spurgte han. "Bare I ville tage mig med jer," svarede hun, "her lider jeg sult og nød fra morgen til aften." Ridderen tog nu Toøje foran sig på hesten og førte hende hjem til sit slot, og kom snart til at holde så meget af hende, at han giftede sig med hende.
Da Toøje var draget af sted med den smukke ridder, var søstrene i begyndelsen meget misundelige. "Men det dejlige træ har vi dog," tænkte de, "selv om vi ikke kan plukke frugterne, er der nok nogen, der lægger mærke til det. Hvem ved, hvad lykken kan bringe os." Men da de næste morgen kom ud, var det forsvundet, og da Toøje kiggede ud af sit vindue, så hun til sin store glæde, at det stod udenfor.
I lang tid levede Toøje lykkelig og glad. Engang kom der to fattige kvinder til slottet og bad om en almisse. Da hun så rigtig på dem, kendte hun sine to søstre igen. De var blevet så fattige, at de måtte gå omkring og tigge, men Toøje tog venligt imod dem og var så god imod dem, at de oprigtigt angrede alt det onde, de havde gjort hende.