少女和狮子


Uma andorinha que canta e pula


从前,有一个商人准备出门作一次短途旅行。 他有三个女儿,出门前,他问他的女儿们想要自己给她们带什么礼物回来。 大女儿说她想要珍珠,二女儿说想要宝石,但小女儿却说道:"亲爱的爸爸,给我带一枝玫瑰花来吧。"当时正是冬天寒冷时节,要买到玫瑰花可以说是一件不可能的事。 爸爸知道这个最漂亮的女儿对花儿情有独钟,所以,他还是答应她尽一切努力为她带一枝玫瑰花回来。 亲吻了三个女儿之后,父亲告别她们出发了。
当商人返程回家时,他为二个大女儿买到了他们所要的珍珠和宝石,可不管他到哪个地方,要想为小女儿找到玫瑰花却是白费气力。 当他到各地的花园寻求玫瑰花时,人们都嘲笑他,问他是不是认为玫瑰花是在冬天里生长开花的。 受到嘲弄,他感到很伤心,但为了他那最可爱的小女儿,他并不在乎,心里仍然想着回去该给她带点什么东西。 最后他来到了一座美丽的城堡,城堡四周都被花园环绕着。 非常奇特的是花园一半似乎是春暖花开的季节,另一半却是严冬的景象;一边是满园最美丽的鲜花竞相开放,一边是花草荒芜,白雪覆盖。 商人不由得对他的仆人说:"啊!真是太幸运了!"说完,就让仆人到玫瑰花圃那儿去为他采一枝玫瑰花。 拿到了玫瑰花,他们格外高兴,正准备离开时,一头凶猛的狮子跳了出来,咆哮着说道:"无论是谁敢偷摘我的玫瑰花,我就要吃掉谁。"商人吓坏了,他战战兢兢地说道:"我不知道这花园是属于你的,有什么办法能救我一命吗?"狮子说道:"不能!没有什么办法能救你,除非你答应把你回家时最先看到的东西送给我。如果你同意这个条件,我就不吃你,连玫瑰花也送给你的女儿。"但商人不愿意答应这条件,他说道:"我的小女儿最爱我,每次回家她总是最先跑出来迎接我,我回家最先遇到的可能正是我的小女儿。"此时,他的仆人吓得不得了,说道:"也许最先遇见的是一只猫,或者是一只狗。"最后,商人怀着一种侥幸的心理和沉重的心情,被迫同意了。 他拿着玫瑰花,答应狮子把他回去时最先遇到的东西送来。
就在商人回到家门前时,他那最小最可爱的女儿首先看到了他,马下飞跑出屋,迎上前来用亲吻欢迎他的归来。 她看到他带回给她的玫瑰花时,更加兴高采烈起来。 但她的爸爸心情却开始忧愁起来,悲叹着说道:"天哪!我最亲爱的孩子!这朵花是我用高价买来的,为了它,我已经答应把你送给一头凶猛的狮子了。它得到你时,一定会把你撕成碎片,然后将你吃掉。"说完,把事情的经过都告诉了她,说准备让她不去,最终的结果会怎样就听天由命吧。
但她女儿听了之后,安慰他说:"亲爱的爸爸,你必须履行自己的诺言。我要到狮子那儿去,并设法驯化它,它也许会让我安然无恙地回家来的。"
第二天早晨,她问清楚去路,告别了父亲,大胆地踏进了森林。 其实,那头狮子是一个被施了魔法的王子,在大白天,他和他的大臣们都被变成狮子的形象,到了晚上又一起变回正常人的样子。 当这位少女来到城堡时,狮子非常有礼貌地迎接她的到来,并向少女求婚,少女同意了他的请求。 盛大的结婚宴会举行之后,他们在一起幸福地生活了很长一段日子。 每当夜晚降临,王子就来了,他召集大臣进见、和她相会,但天一亮就离开新娘,独自而去,她不知道他去了哪儿,但每到夜晚他又会回来,天天都是这样。
有天,王子对她说:"明天你的大姐姐结婚,你爸爸要在家里举行一个盛大的喜庆宴会,如果你想去看看他们,我就让我的狮子带你去那里。"这对时时刻刻都想去看看父亲的她来说,真是太高兴了。 第二天她和狮子们一道出发了,每个看到她的人都格外的高兴。 因为他们认为她被狮子咬死已经很久了,现在又看到她回来觉得真不容易。 她告诉他们自己现在生活得很幸福。 她在家一直待到婚宴结束才返回森林里去。
不久,二姐又要结婚了,她也被邀请去参加结婚典礼。 她对王子说:"这次你必须和我一同前往,我一个人是不会去的。"但他不同意,说这是一件非常危险的事情,因为只要有一丝灯火的光照着他,他身上的魔法就会更加邪恶,他会被变成一只鸽子,要被迫在世间到处飞行七年。 可她却不答应,还说她会细心照料,不会让一丝灯火的光线照到他身上的。 最后他俩一起出发了,还带上了他们的孩子。 到家后,她选择了一间墙壁很厚的大厅,让他待在里面。 但不幸的是厅门之上有一条裂缝,谁也没有发现。
盛大的婚礼举行了,就在结婚队伍从教堂返回经过这座大厅时,队伍里举着的火炬有一丝光线从厅门的裂缝射进了大厅,正好照在王子的身上。 刹那间,王子消失了,等他妻子进来找他时,只发现一只白色的鸽子。 他对她说:"我必须在世界各地到处飞行七年,而且时常会掉落一根白色的羽毛,那是我给你指出我去的方向,你跟着它,最终就会追上我,从而解救我,让我获得自由之身。"
说完,他飞出了大门,她紧跟着鸽子毫不犹豫地追去。 他飞啊! 不停地飞! 她追啊! 不停地追! 在天地之间的广阔世界里,她循着他不时掉落的白色羽毛指引之路,勇往直前;她心身合一,对世间万事不闻不问,决不旁顾;她也不休息,不睡觉。 整整七年终于就要过去了,她心情开始兴奋起来,以为一切艰难困苦和烦恼忧愁都会随着七年的到来而结束。 然而,现实却将她们美好的希望击得粉碎:一天,她正在路上追寻着,却怎么找也找不着白色羽毛了。 她抬眼在天空搜寻,别说是白鸽,就连鸟的影子都没看到。 "老天爷--,"她长叹一声,"没有人能帮助我了!"
她迎着太阳走去,对着太阳说道:"太阳啊!你的光辉普照在大地之上,你俯视着群山、峡谷,你可曾看见过一只白鸽吗?""没有!"太阳真的说话了,"我没有看见白鸽,但我送给你一个小匣子,在你最需要帮助时就打开它。"她很感激地向太阳道谢之后,继续寻找着白鸽的踪迹。
随着夜幕的降临,月亮慢慢地升起来了,看到月光映着大地,她对着月亮大声喊道:"月亮啊!你的清辉整夜照映在山川田野之上,你可曾看见过一只白鸽吗?""没有!"月亮真的说话了,"我帮不了你的忙,但我送给你一只鸡蛋,在你最需要之时就打碎它。"她真诚地向月亮道谢之后,又继续寻找着白鸽的踪迹。
晚风吹拂过来,吹到她身边时,她大声说道:"晚风啊!你穿过树林,拂过林梢,摇动着树叶,你可曾看见过一只白鸽吗?""没有!"晚风真的说话了,"但我可以问问其它的风儿,它们也许看见过。"东风和西风来了,它们都说没有看见白鸽,但南风却说道:"我看见过这只白鸽,他飞到红海去了。因为七年已经过去,他变成了一只狮子。此刻他正在和一条飞龙搏斗,那条龙是一个被施了魔法的公主,她想把你和他分开呢。"听到这消息后,晚风说道:"我告诉你一个诀窍,你到红海去,靠右边的岸上有一排柳树枝,你按顺序数过去,数到第十一枝时,将它折断,然后用柳树枝去抽打那条龙,狮子就会赢得胜利。他们两个也会变回人的样子出现在你面前,千万记住,你要立即上前挽着你心爱的王子动身回家。"
于是,这可怜的人儿又踏上了追寻之路,来到了红海。 一切正如晚风所说的一样,她拔下第十一棵柳树枝,用力抽打那条飞龙。 刹那间,狮子变成了王子,飞龙也变成了一位公主。 惊喜之下,她竟把晚风给她的告诫忘了,结果让那个公主看准机会,用手臂挽着王子,带着他离去了。
这位远道而来的不幸女人又被抛弃了,孤独凄凉又伴随着她。 但是,她没有气馁,仍然鼓足勇气说道:"我要继续追寻他,只要是风能吹到的地方,有公鸡啼叫的地方,哪怕是天涯海角,我也去寻找,一定要再次找到他为止。"她又开始了艰难的跋涉。
功夫不负有心人,她终于来到了一座城堡,王子正是被公主带到了这里。 看来这儿正筹备着一个宴会,她向路人一打听,原来是要举行一个结婚宴会。 "啊!上帝保佑我!"她说道。 然后拿出太阳送给她的小匣子,打开一看,里面放着的是一套闪烁着阳光般光彩的令人眩目的礼服。 她穿上礼服,走进了王宫,所有的人都把目光移到了她身上。 新娘看见她穿的礼服,非常羡慕,问她是否愿意出卖,她回答说:"金子和银子是买不到的,除非用血和肉才能换取。"公主不懂她的话,问她是什么意思,她说:"今天晚上,让我在新郎的房内和他谈一次话,我就把这礼服送给你。"公主最后同意了。 但她吩咐她的仆人给王子喝一杯安眠药水,让他既不可能听到这个女人说话,也不可能看到她。
到了晚上,王子睡着了,她被带到他的房间里。 她在他靠近脚的一头坐下说道:"我追寻你有七年了,太阳、月亮、晚风都帮我寻找你,最后我帮你战胜了飞龙,难道你就把我完全给忘了吗?"可惜王子此时睡得正香,她的话传到他耳朵里,迷迷糊糊就好像是风拂过杉树的沙沙声响。
第二天早晨,她被带了出去,无可奈何之下,只得交出了那件金光闪闪的礼服。 看到自己的努力竟毫无结果,她走出王宫,伤心得跑到外面的草地上便瘫了下来,失声痛哭。 坐了一会儿,她想起了月亮送给自己的那个鸡蛋,马上将蛋拿出来打碎,从蛋里面立即跑出一只纯金的母鸡和十二只纯金的小鸡。 它们一出壳就在四周唧唧地闹着玩耍起来,又依偎在母鸡的翅膀下面,构成了一幅世间最美的画卷。 看着这群美丽可爱的金鸡,她站起来极不情愿地赶着它们向王宫走去。 听到小鸡诱人的叫声,新娘从窗户里探出头来看到了可爱的鸡群,便兴奋地跑出来,问她是不是愿意出卖这群金鸡。 "金子和银子是买不到的,除非用血和肉才能换取。"公主又想和昨天一样来欺骗她,就答应了她的要求。
但公主没有料到,晚上王子来到房间里时,他问仆人为什么昨晚风吹得沙沙地响。 仆人心虚,只好把一切都告诉了王子:他如何给王子服安眠药水,而一个可怜的少妇来到王子的房间里对他诉说不止,他却在呼呼大睡,今晚她还要来这儿等等。 王子听过之后,小心翼翼地倒掉了安眠药水,睡在了床上。 待那少妇到来又开始向他诉说自己的悲哀与不幸、诉说自己对他的爱是多么的忠贞不移时,他听出了这是他心爱的妻子的声音。 他一下子跳了起来,说道:"啊!你把我从梦魇中唤醒了,因为我被这个陌生的公主用咒语迷住,完全把你忘记了,在这幸福的时刻,我要感谢上帝又把你送回到我的身边。"
他们害怕被公主发现,于是,趁着黑夜悄悄地逃出王宫,夜以兼程地向自己的家园赶去。 他们终于又见到了自己的孩子了,孩子已经长大,看起来真是神采飘逸,俊美非常,人见人爱。 一家人终于又团聚在一起了,他们消除了魔障,过上了正常人的幸福生活,一辈子再也没有分离过。
Houve, uma vez, um homem que devia fazer uma longa viagem; despedindo-se de suas três filhas, perguntou-lhes o que queriam que lhes trouxesse. A mais velha pediu que lhe trouxesse lindas pérolas, a segunda pediu grandes diamantes e a terceira disse apenas:
- Meu pai, eu quero uma andorinha que canta e pula.
O pai sorriu e respondeu:
- Está bem; sé conseguir achá-la farei por trazê-la.
Depois beijou as três moças e partiu.
Chegando o momento de regressar a casa, levava consigo as pérolas e os diamantes para as duas mais velhas, mas a tal andorinha, que cantava e pulava, para a mais moça, não lhe foi possível descobrir em parte alguma; isso o aborrecia porque queria satisfazer a vontade da filha que era a sua predileta.
O caminho que percorria devia passar por uma floresta, no meio da qual havia um suntuoso castelo e perto do castelo uma frondosa árvore. Nos galhos mais altos dessa árvore, ele viu uma andorinha cantando e pulando.
- Ah chegas em boa hora! - exclamou ele muito contente.
Chamou o criado e mandou que trepasse na árvore e apanhasse a andorinha; quando este se aproximava da árvore, eis que pulou para fora um leão; sacudiu a juba e rugiu a ponto de fazer estremecer as copadas das árvores.
- Se alguém tentar roubar-me a andorinha que canta e pula, devoro-o - gritou ele.
- Perdão, - disse o homem - eu não sabia que o pássaro te pertence. Quero reparar meu erro e pagar-te com ouro maciço o resgate pela minha vida.
O leão respondeu, desdenhoso:
- Nada poderá salvar-te se não prometeres formalmente entregar-me a primeira coisa que te vier ao encontro quando chegares em casa. Se mó prometeres, dar-te- ei esse pássaro e, também, a vida.
O homem recusou esta proposta, dizendo:
- Essa primeira coisa bem poderia ser minha filha menor, que me tem mais amor do que as outras; essa é quem sempre corre ao meu encontro quando volto para casa.
O criado, porém, que estava meio morto de medo, disse:
- Tendes certeza de que será mesmo vossa filha quem virá ao vosso encontro? Poderia ser um gato um cão!
O homem acabou por se persuadir; pegou a andorinha que cantava e pulava, prometeu ao leão tudo o que ele queria e pôs-se a caminho de casa. Quando ia entrando, a primeira coisa que viu foi a filha, a mais nova e a predileta, que correu ao seu encontro abraçando-o e beijando-o muito feliz; quando viu que o pai trazia a andorinha que canta e pula, não coube em si pela alegria. Mas o pai não podia sentir alegria ao lembrar-se da promessa feita e, chorando tristemente, disse-lhe:
- Minha querida filhinha, esse pássaro custou-me muito caro; fui obrigado a prometer ao leão feroz que te daria a ele em troca disso. Ah, se fores ter com ele, serás estraçalhada e devorada num minuto!
Contou-lhe, pormenorizadamente, tudo o que havia acontecido, acrescentando que ela não devia ser sacrificada em cumprimento de tal promessa. A moça, porém, confortou-o como pôde, dizendo:
- Meu querido pai, o que prometeste é preciso que se cumpra; portanto, irei e farei tudo para amansar o leão e depois voltar, novamente, para casa sã e salva.
Na manhã seguinte, pediu que lhe indicassem o caminho; despediu-se de todos e penetrou, corajosamente, na floresta.
O feroz animal, porém, era simplesmente um príncipe encantado; durante o dia, assumia o aspecto de leão feroz c, igualmente, se transformavam em leões todos os seus servidores, mas, à noite, retomava o aspecto humano. A sua chegada, ela foi recebida com muita cortesia e introduzida no castelo. Quando chegou a noite, o leão voltou a ser o belo príncipe e, não tardou muito, o dois casaram-se, realizando uma festa magnificente.
Viviam eles completamente felizes, embora tivessem que dormir de dia e passar juntos a noite, acordados, com toda a sua corte. Decorrido algum tempo, o marido disse:
- Vai haver festa amanhã em casa de teu pai, será celebrado o casamento de tua irmã mais velha. Se quiseres ir, poderei mandar meus leões acompanhar-te.
Ela aceitou, pois estava morrendo de saudade do pai. Assim, no dia seguinte, foi para lá acompanhada pelos leões. À sua chegada, todos ficaram muito contentes e felizes, pois a supunham devorada pelo leão há muito tempo. Ela, porém, contou-lhes que belo marido possuía e como vivia feliz. Passou com eles todo o tempo que durou a festa de bodas e, depois, regressou ao seu palácio na floresta.
Não demorou muito e a segunda irmã também se casou e a moça foi convidada para os festejos. Ela disse ao leão:
- Desta vez, não quero ir só, tens que me acompanhar.
O leão explicou-lhe que era muito perigoso para ele. porque, se o mais tênue raio de luz o tocasse, ele se transformaria numa pomba c seria obrigado a andar durante sete anos com outras pombas.
- Ora, - disse ela, - eu te protegerei e tudo farei para preservar-te da luz; vem comigo!
O leão então decidiu ir e foram, levando consigo o seu filhinho. A moça mandou preparar uma sala com paredes tão herméticas que não permitissem a passagem do menor raio do luz, para que o leão se instalasse quando acendessem os archotes nupciais. Mas, sendo a porta desta sala de madeira ainda verde, abriu-se nela uma frestazinha imperceptível.
O casamento foi realizado com a máxima pompa, e, quando o cortejo regressou da igreja e passou diante da porta com suas velas e archotes acesos, um tênue fio de luz penetrou pela fresta e incidiu sobre o príncipe que, instantaneamente, se transformou em pomba; quando a moça foi ter com o marido, viu apenas uma pomba branca em seu lugar, a qual lhe disse com tristeza:
- Agora terei que voar pelo mundo afora durante sete anos; mas, a cada sete passos, deixarei cair uma gota de sangue e uma pena branca; isso te indicará meu caminho. Se o seguires, ainda poderás libertar-me.
Dito isto, saiu voando pela porta e ela o foi seguindo. A cada sete passos, caía no chão uma gota de sangue e uma pena branca pelas quais ela se orientava. Assim foi andando, sempre mais longe, pelo vasto mundo afora, sem nunca olhar para lado algum e sem nunca descansar. Quando já estavam quase para findar os sete anos. ela ficou feliz, pensando que a libertação não estava longe. Mas, infelizmente, estava ainda bem distante!
Certo dia, porém não viu cair nem uma gota de sangue e nem uma pena e, erguendo os olhos para o alto, viu que a pomba havia desaparecido. "Os homens não te poderão ajudar," pensou ela. Então decidiu-se e foi ter com o Sol, perguntando-lhe:
- Tu, que brilhas desde os mais altos picos até às mais obscuras fendas, não viste passar voando uma pomba branca?
- Não, não vi; - respondeu o Sol - mas vou dar- te uma caixinha, que abrirás quando estiveres em grande dificuldade.
A moça agradeceu, cordialmente, e continuou andando, até que se fez noite e surgiu a Lua; ela foi e perguntou-lhe:
- Tu, que resplandeces à noite inteira sobre os campos e florestas, não viste por acaso uma pomba branca voando?
- Não, não vi; - disse a Lua, - mas vou dar-te um ovo. Quando estiveres em dificuldades, quebra-o, que ele te ajudará.
A moça agradeceu de coração à Lua e continuou andando até que se levantou o Vento da Noite soprando nela; dirigiu-se a ele:
- Tu, que sopras por entre as árvores, não viste por acaso uma pomba branca voando?
- Não, não vi; - respondeu o vento - mas vou perguntar aos outros ventos, talvez a tenham visto.
Chegaram os ventos do Oriente e do Ocidente, que também não tinham visto nada; mas, chegando o vento do Sul, esse disse:
- Eu vi a pomba branca; foi voando para o mar Vermelho e lá se transformara outra vez em leão. Os sete anos já passaram, por isso o leão está combatendo com um dragão, o qual, na verdade, nada mais é do que uma princesa encantada.
Então o Vento da Noite disse à moça:
- Vou dar-te um conselho: vai até ao mar Vermelho; na margem direita, encontrarás muitas varas grossas; conta-as, depois corta a undécima e com ela bate no dragão; assim o leão poderá vencê-lo e os dois readquirirão aspecto humano. Em seguida, olha à tua volta e verás um Condor, que habita nas margens do mar Vermelho; senta-te com teu marido nas suas costas e o Condor vos reconduzirá de volta para casa, do outro lado do mar. Aqui tens uma noz; quando chegares ao meio do mar, deixa-a cair na água; ela brotará imediatamente, tornando-se uma grande nogueira, sobre o qual o Condor descansará do seu voo, pois, se não tivesse onde descansar, não teria forças suficientes para levar-vos até a margem oposta. Presta atenção: se esqueceres de jogar a noz dentro do mar, o Condor vos deixará cair na água.
A moça obedeceu, exatamente, o conselho do Vento da Noite. Chegou onde estavam as varas, cortou a undécima, com ela bateu no dragão e assim o leão conseguiu vencer. Imediatamente, os dois se transformaram em seres humanos. Mas, assim que a princesa, que antes fora dragão, foi libertada do encanto, pegou no braço do príncipe e ambos sentaram nas costas do Condor, que os levou embora. A infeliz peregrina ficou lá abandonada; então sentou-se numa pedra e chorou longamente. Por fim reanimou-se um pouco e decidiu:
- Irei tão longe até onde chega o vento e até que cante o galo; lá tornarei a encontrar meu amado.
Pôs-se a caminho e andou, andou, andou, até chegar ao castelo onde os dois estavam morando e soube que se aprestavam a realizar as festas para o casamento deles. A moça, porém, disse:
- Deus não me abandonará, estou certa!
Então abriu a caixinha que lhe fora dada pelo Sol e viu dentro um vestido que resplandecei-a justamente como ele. Ela vestiu-o e dirigiu-se pura o castelo; lá, todos, ate mesmo a noiva, olhavam para ela mudos de admiração. O vestido agradou tanto à noiva que esta quis possui-lo para o vestir na hora do casamento e foi perguntar à moça se o vendia.
- Não o darei por dinheiro, nem por outros bons, - respondeu a moça - mas, se o quiseres, terás de pagado com carne e sangue.
A noiva perguntou o que queria dizer com isso; então a moça disse-lhe:
- Quero que me deixes dormir uma noite nos aposentos do príncipe.
A noiva relutou, mas como desejava loucamente o vestido, concordou; ordenou ao escudeiro do príncipe que lhe desse, ao deitar um copo de vinho, dentro do qual havia um narcótico. Depois, quando o príncipe adormeceu, levaram a moça aos aposentos dele. Ela sentou-se ao pé da cama, dizendo:
- Eu te segui durante sete anos, fui ter com o Sol. com a Lua e com os quatros Ventos, para saber onde estavas; depois te ajudei a vencer o Dragão. Queres mesmo esquecer-me completamente?
O príncipe, porém, dormia tão profundamente, que aquilo lhe parecia o sussurrar do vento entre os pinheiros. Ao raiar do dia, a moça foi levada para fora e obrigada a entregar o lindo vestido de ouro.
Não tendo sido feliz nessa primeira tentativa, ela foi, desolada, sentar-se num prado e se pôs a chorar. Estava assim mergulhada em tristeza quando se lembrou do ovo que lhe dera a Lua; quebrou-o, e do seu interior saíram uma choca e doze pintainhos, todos de ouro, que se puseram a correr de um lado para outro, bicando o que encontravam e, depois, voltaram a aninhar-se sob as asas maternas, não existindo no mundo coisa mais linda de se ver.
A moça levantou-se e os foi tocando para a frente; nisso a noiva saiu à janela e viu os maravilhosos pintainhos; ficou doida por eles e perguntou se não estavam à venda:
- Não os venderei por dinheiro e nem por todos bens, mas se os quiseres terás de pagá-los com carne e sangue; - respondeu a moça. - Deixa-me dormir mais uma noite nos aposentos do príncipe.
A noiva concordou, pensando que faria o mesmo da noite anterior. Mas, quando o príncipe se recolheu aos seus aposentos, perguntou ao escudeiro o que era aquele murmúrio e aquele sussurro que ouvia de noite. Então o escudeiro contou-lhe tudo: que ele havia dormido tão profundamente graças a um narcótico servido pela noiva, porque uma pobre moça lhe pedira para dormir aí em seu quarto. E disse que, também, nessa noite estava incumbido de dar-lhe o narcótico. O príncipe então ordenou:
- Põe fora, aí no chão, o narcótico.
E à noite, a moça foi novamente conduzida aos aposentos do príncipe. Mas, quando começou a lamentar-se e a contar suas tristes desventuras, o príncipe logo a reconheceu pela voz e pulou da cama, exclamando:
- Agora sim é que estou desencantado. Eu tinha a impressão de estar vivendo num sonho; a princesa estrangeira me encantou para que eu te esquecesse. Felizmente Deus me livrou, em tempo, desse cruel engano e da estranha fascinação.
Fugiram, ocultamente, do castelo durante a noite, pois temiam a cólera do pai da princesa, que também era feiticeiro. Em seguida, treparam nas costas do Condor e este os transportou para além do mar Vermelho. No meio do mar, a moça deixou cair a noz, que produziu uma grande nogueira. O Condor descansou, um pouco, sobre os seus galhos e depois os levou para casa, onde encontraram o filho que tinha crescido bastante e se tomara um belíssimo jovem.
Dai em diante, não tiveram mais aborrecimentos e viveram alegres e felizes até o fim da vida.