Houve, uma vez, um príncipe que, cansado de viver no palácio de seu pai sem fazer nada, e sendo ele um rapaz que não tinha medo de coisa alguma, certo dia ocorreu-lhe uma ideia:
- Quero ir-me embora daqui e percorrer o mundo; assim deixarei de me aborrecer e, ao mesmo tempo, poderei ver muitas coisas interessantes.
Resolvido a partir, despediu-se dos pais e saiu. Meteu-se pelo caminho afora e foi andando sempre para a frente; andou um dia inteiro, desde manhã até à noite, indiferente ao rumo da estrada. Ora, aconteceu justamente que foi parar bom em frente à casa de um gigante. Como estava bastante cansado, sentou-se perto da porta a fim de repousar um pouco.
Estando aí sentado, deixou os olhos vaguearem de um lado para outro e nisso viu, largado no terreiro, o jogo predileto do gigante: um boliche composto de bolas enormes e os respectivos paulitos do tamanho de um homem. Não demorou muito e veio-lhe o desejo de jogar uma partida; então colocou de pé os paulitos e pôs-se a jogar as bolas. Sempre que conseguia derrubar um pau, fazia, porém, tal algazarra e soltava tais gritos de alegria que o barulho chegou aos ouvidos do gigante. Este saiu à janela e vendo um homem, não mais alto que o comum dos seres humanos, a jogar o seu boliche, gritou:
- Olá, seu vermiculo, como ousas jogar com as minhas bolas? Quem te deu forças suficientes para isso?
O príncipe ergueu os olhos e, vendo o gigante na janela, respondeu:
- Ora, seu pedante, então julgas ser o único que possui braços fortes e rijos? Fica sabendo que eu posso fazer tudo o que me vem à cabeça.
O gigante, estupefato, desceu ao terreiro e ficou a olhar para ele enquanto jogava. Daí a alguns momentos, disse-lhe:
- Escuta, simples ser humano, se realmente és tão corajoso, vai buscar-me uma das maçãs da árvore da vida.
- Que queres fazer com ela? - perguntou o príncipe.
- Quero-a, não para mim, mas para minha noiva, que, há muito, me vem pedindo essa tal maçã. Eu já percorri o mundo de um ponto a outro, contudo não consegui descobrir essa árvore.
- Pois bem, eu a encontrarei, - disse o príncipe, - e não há o que me possa impedir de colher a maçã.
- Pensas que é assim tão fácil? - disse o gigante.
- O jardim onde está a macieira é todo circundado por altíssimas grades de ferro e, à entrada dele, então sentadas, lado a lado, duas feras medonhas, que montam guarda, continuamente, e impedem a quem quer que seja aproximar-se ou penetrar naquele recinto.
- Eu tenho certeza que a mim deixarão entrar, - retorquiu o príncipe.
- Sim; mas, mesmo que chegues a entrar no jardim, até à macieira onde está a maçã, ainda assim ela não é tua; para consegui-la, terás de enfiar a mão através de um anel lá dependurado, coisa que até hoje ninguém o conseguiu.
- Mas eu o farei! - disse o príncipe.
Despediu-se do gigante e foi-se, atravessando montes
e vales, campos e bosques, até que avistou o jardim encantado.
Viu, em toda a volta dele, as feras deitadas, que estavam nesse momento dormindo com a cabeça entre as patas. E não despertaram nem mesmo com o ruído que fez ao chegar lá. O príncipe, então, saltou agilmente por cima delas e conseguiu entrar, sem maiores dificuldades, dentro do jardim. Bem no centro do jardim, estava a árvore da vida, da qual pendiam lindas maçãs vermelhinhas e reluzentes.
Mais que depressa ele trepou na árvore e tratou de apanhar uma maçã, mas deu com o anel dependurado diante da fruta, como a protegê-la; sem hesitar, ele enfiou a mão através do anel e colheu, facilmente, a maçã. Então o anel aderiu, estreitamento, ao seu braço e ele sentiu uma poderosa força penetrar-lhe nas veias.
Quando finalmente desceu da árvore, não quis saúdo jardim saltando a grade mas passou, diretamente, pelo grande portão que, a um simples impulso seu, logo se escancarou. Saiu tranquilamente, mas o leão que estava deitado lá na frente, despertou e pôs-se a correr-lhe atrás, não feroz e exasperado, mas humildemente, como se o príncipe fosse seu amo.
Depois de muito caminhar, o príncipe foi entregar ao gigante a maçã prometida, dizendo-lhe:
- Viste, colhi-a sem nenhuma dificuldade!
O gigante ficou felicíssimo por ver seu desejo realizado e correu à casa da noiva, entregando-lhe a maçã que ela tanto desejava. A noiva era uma jovem bonita e sagaz, por isso, não vendo o anel em seu poder, disse-lhe:
- Não acreditarei que foste tu que colheste a maçã, se não vir o anel no teu braço.
- Ora, é só ir buscá-lo em casa! - disse o gigante.
Disse isso pensando que lhe seria fácil apoderar-se
do anel, tirando-o à força daquele fraco indivíduo, se não lho desse espontaneamente.
Foi ter com o príncipe e pediu-lhe o anel, mas este recusou-se a entregá-lo.
- Onde estiver a maçã, - disse o gigante, - lá deve estar também o anel; se não mo entregas por bem, terás que lutar comigo!
O príncipe aceitou o desafio e lutaram longamente: o gigante, porém, não conseguia dominar o príncipe, cujas forças se haviam tornado invencíveis, graças ao poder mágico do anel que tinha no braço. Então o gigante es- cogitou num meio astucioso e disse:
- Esta luta provocou-me um grande calor e creio que a ti também; nademos um pouco no rio para nas refrescar, em seguida retornaremos à luta.
O príncipe, que desconhecia a falsidade, acompanhou-o até o rio; despiu toda a roupa e inclusive o anel. Deixando tudo na beira da água mergulhou tranquilamente. O gigante, mais que depressa, apoderou-se do anel e saiu correndo, mas o leão, que presenciara o furto, perseguiu-o e em breve, arrancou-lhe o anel da mão, entregando-o novamente a seu dono. Furibundo, o gigante ocultou-se atrás de um enorme carvalho e, quando o príncipe estava ocupado em vestir-se, atacou-o de surpresa e vazou-lhe os olhos.
Completamente cego, o desditoso príncipe agora não sabia como se arranjar. O desalmado gigante aproximou-se-lhe e, como se fosse alguém que piedosamente o viesse socorrer, tomou-o pela mão e conduziu-o ao alto de um penhasco onde o abandonou, pensando: "Se ele der dois passos, cairá no abismo onde morrerá e aí poderei tomar-lhe o anel!"
O fiel leão, porém, não se distanciava do rapaz. Vendo o perigo que corria, puxou-o pela roupa e levou-o longe dali. E o gigante ao voltar, certo de encontrar o príncipe morto no despenhadeiro, foi obrigado a constatar que sua astúcia fora inútil. "Será possível que não possa me livrar desse homúnculo!," murmurou raivosamente. Tornou a pegar o cego pela mão e conduziu-o outra vez à beira do abismo, mas o leão percebeu suas cruéis intenções e, de um salto, postou-se junto do príncipe, salvando-o ainda desta vez.
O gigante deixou passar um pouco do tempo, depois tornou a conduzir o cego ao lugar mais perigoso do penhasco, certo de que dessa vez rolaria sem remissão para o abismo. O leão, porém, investiu prontamente contra o gigante, dando-lhe tamanho empurrão, que este caiu pelo despenhadeiro, indo esfacelar-se lá em baixo.
Segurando o pobre cego pela roupa, o leão levou-o ao pé de uma árvore, perto da qual corria um regato de águas cintilantes. O príncipe sentou-se e o leão, com a pata, colhia água e borrifava-lhe o rosto. Algumas gotas caíram-lhe nas órbitas, banhando-as, e, no mesmo instante, o cego recuperou a vista, não totalmente, mas o bastante para ver um passarinho que passou voando e batendo de encontro às árvores sem as ver; depois caiu na água, banhou-se e, em seguida, alçou voo e livrou-se no espaço sem mais esbarrar nos galhos, como se tivesse recuperado a vista.
Isto foi como um aviso do céu para o príncipe, que se curvou sobre o regato e lavou bem o rosto. Ao levantar-se, possuía novamente belos olhos, límpidos, e de visão bem clara, como jamais os tivera.
Então, ajoelhou-se, agradeceu piedosamente a Deus aquele milagre e continuou a jornada pelo mundo afora, acompanhado pelo fiel leão.
Depois de muito andar, foi ter a um castelo encantado, à porta do qual estava linda jovem, de porte gentil e de rosto muito gracioso, mas completamente preta.
- Ah, - disse ela dirigindo-se ao príncipe, - se pudesses libertar-me do malefício que me deitaram!
- Que devo fazer, para isso? - perguntou o príncipe.
A jovem respondeu:
- Tens de passar três noites no salão do castelo encantado, mas não deves permitir que o medo invada teu coração. Se te torturarem atrozmente, deves resistir sem um lamento; se o conseguires, estarei salva. Ninguém aqui poderá tirar-te a vida.
- Está bem, - disse o príncipe. - Eu não tenho medo de nada; com a ajuda de Deus, tentarei a prova.
Entrou, alegremente, no castelo e, quando caiu a noite, ficando tudo escuro, foi sentar-se no salão a espera dos acontecimentos. Até meia-noite, tudo permaneceu quieto e tranquilo; depois começou, subitamente, infernal algazarra, e de toda parte surgiram terríveis diabinhos, os quais, fingindo não ver o jovem, se sentaram no meio do salão, acenderam uma fogueira e puseram-se a jogar baralho. Quando um deles perdia, punha-se a berrar:
- Não está certo; há alguém aqui que não é dos nossos, é culpa dele se perco!
- Eh, tu aí atrás do fogão, espera que já vou! - dizia outro.
Os gritos aumentavam, progressivamente, e ninguém poderia ouvi-los sem morrer de medo. Mas o príncipe manteve-se sossegado, sem sombra de medo; exasperados, os diabinhos arremeteram contra ele e eram tão numerosos que lhe parecia impossível resistir. Atiraram- no ao chão, arrastaram-no de cá e de lá, beliscaram-no, espetaram-no, deram-lhe um mundo de pancadas e torturaram-no horrivelmente; mas de sua boca não escapou um único lamento.
Ao amanhecer, quando a luz começou a penetrar no salão, os diabos desapareceram, deixando o rapaz tão extenuado e pisado, que não podia sequer mexer um dedo. Não tardou muito, porém, e ele viu chegar a linda pretinha, trazendo na mão um frasco cheio de água vital; com as mãozinhas ágeis lavou-o muito bem com essa água e, imediatamente, desapareceram as contusões e toda e qualquer dor, invadindo-lhe as veias nova força.
- Quero ir-me embora daqui e percorrer o mundo; assim deixarei de me aborrecer e, ao mesmo tempo, poderei ver muitas coisas interessantes.
Resolvido a partir, despediu-se dos pais e saiu. Meteu-se pelo caminho afora e foi andando sempre para a frente; andou um dia inteiro, desde manhã até à noite, indiferente ao rumo da estrada. Ora, aconteceu justamente que foi parar bom em frente à casa de um gigante. Como estava bastante cansado, sentou-se perto da porta a fim de repousar um pouco.
Estando aí sentado, deixou os olhos vaguearem de um lado para outro e nisso viu, largado no terreiro, o jogo predileto do gigante: um boliche composto de bolas enormes e os respectivos paulitos do tamanho de um homem. Não demorou muito e veio-lhe o desejo de jogar uma partida; então colocou de pé os paulitos e pôs-se a jogar as bolas. Sempre que conseguia derrubar um pau, fazia, porém, tal algazarra e soltava tais gritos de alegria que o barulho chegou aos ouvidos do gigante. Este saiu à janela e vendo um homem, não mais alto que o comum dos seres humanos, a jogar o seu boliche, gritou:
- Olá, seu vermiculo, como ousas jogar com as minhas bolas? Quem te deu forças suficientes para isso?
O príncipe ergueu os olhos e, vendo o gigante na janela, respondeu:
- Ora, seu pedante, então julgas ser o único que possui braços fortes e rijos? Fica sabendo que eu posso fazer tudo o que me vem à cabeça.
O gigante, estupefato, desceu ao terreiro e ficou a olhar para ele enquanto jogava. Daí a alguns momentos, disse-lhe:
- Escuta, simples ser humano, se realmente és tão corajoso, vai buscar-me uma das maçãs da árvore da vida.
- Que queres fazer com ela? - perguntou o príncipe.
- Quero-a, não para mim, mas para minha noiva, que, há muito, me vem pedindo essa tal maçã. Eu já percorri o mundo de um ponto a outro, contudo não consegui descobrir essa árvore.
- Pois bem, eu a encontrarei, - disse o príncipe, - e não há o que me possa impedir de colher a maçã.
- Pensas que é assim tão fácil? - disse o gigante.
- O jardim onde está a macieira é todo circundado por altíssimas grades de ferro e, à entrada dele, então sentadas, lado a lado, duas feras medonhas, que montam guarda, continuamente, e impedem a quem quer que seja aproximar-se ou penetrar naquele recinto.
- Eu tenho certeza que a mim deixarão entrar, - retorquiu o príncipe.
- Sim; mas, mesmo que chegues a entrar no jardim, até à macieira onde está a maçã, ainda assim ela não é tua; para consegui-la, terás de enfiar a mão através de um anel lá dependurado, coisa que até hoje ninguém o conseguiu.
- Mas eu o farei! - disse o príncipe.
Despediu-se do gigante e foi-se, atravessando montes
e vales, campos e bosques, até que avistou o jardim encantado.
Viu, em toda a volta dele, as feras deitadas, que estavam nesse momento dormindo com a cabeça entre as patas. E não despertaram nem mesmo com o ruído que fez ao chegar lá. O príncipe, então, saltou agilmente por cima delas e conseguiu entrar, sem maiores dificuldades, dentro do jardim. Bem no centro do jardim, estava a árvore da vida, da qual pendiam lindas maçãs vermelhinhas e reluzentes.
Mais que depressa ele trepou na árvore e tratou de apanhar uma maçã, mas deu com o anel dependurado diante da fruta, como a protegê-la; sem hesitar, ele enfiou a mão através do anel e colheu, facilmente, a maçã. Então o anel aderiu, estreitamento, ao seu braço e ele sentiu uma poderosa força penetrar-lhe nas veias.
Quando finalmente desceu da árvore, não quis saúdo jardim saltando a grade mas passou, diretamente, pelo grande portão que, a um simples impulso seu, logo se escancarou. Saiu tranquilamente, mas o leão que estava deitado lá na frente, despertou e pôs-se a correr-lhe atrás, não feroz e exasperado, mas humildemente, como se o príncipe fosse seu amo.
Depois de muito caminhar, o príncipe foi entregar ao gigante a maçã prometida, dizendo-lhe:
- Viste, colhi-a sem nenhuma dificuldade!
O gigante ficou felicíssimo por ver seu desejo realizado e correu à casa da noiva, entregando-lhe a maçã que ela tanto desejava. A noiva era uma jovem bonita e sagaz, por isso, não vendo o anel em seu poder, disse-lhe:
- Não acreditarei que foste tu que colheste a maçã, se não vir o anel no teu braço.
- Ora, é só ir buscá-lo em casa! - disse o gigante.
Disse isso pensando que lhe seria fácil apoderar-se
do anel, tirando-o à força daquele fraco indivíduo, se não lho desse espontaneamente.
Foi ter com o príncipe e pediu-lhe o anel, mas este recusou-se a entregá-lo.
- Onde estiver a maçã, - disse o gigante, - lá deve estar também o anel; se não mo entregas por bem, terás que lutar comigo!
O príncipe aceitou o desafio e lutaram longamente: o gigante, porém, não conseguia dominar o príncipe, cujas forças se haviam tornado invencíveis, graças ao poder mágico do anel que tinha no braço. Então o gigante es- cogitou num meio astucioso e disse:
- Esta luta provocou-me um grande calor e creio que a ti também; nademos um pouco no rio para nas refrescar, em seguida retornaremos à luta.
O príncipe, que desconhecia a falsidade, acompanhou-o até o rio; despiu toda a roupa e inclusive o anel. Deixando tudo na beira da água mergulhou tranquilamente. O gigante, mais que depressa, apoderou-se do anel e saiu correndo, mas o leão, que presenciara o furto, perseguiu-o e em breve, arrancou-lhe o anel da mão, entregando-o novamente a seu dono. Furibundo, o gigante ocultou-se atrás de um enorme carvalho e, quando o príncipe estava ocupado em vestir-se, atacou-o de surpresa e vazou-lhe os olhos.
Completamente cego, o desditoso príncipe agora não sabia como se arranjar. O desalmado gigante aproximou-se-lhe e, como se fosse alguém que piedosamente o viesse socorrer, tomou-o pela mão e conduziu-o ao alto de um penhasco onde o abandonou, pensando: "Se ele der dois passos, cairá no abismo onde morrerá e aí poderei tomar-lhe o anel!"
O fiel leão, porém, não se distanciava do rapaz. Vendo o perigo que corria, puxou-o pela roupa e levou-o longe dali. E o gigante ao voltar, certo de encontrar o príncipe morto no despenhadeiro, foi obrigado a constatar que sua astúcia fora inútil. "Será possível que não possa me livrar desse homúnculo!," murmurou raivosamente. Tornou a pegar o cego pela mão e conduziu-o outra vez à beira do abismo, mas o leão percebeu suas cruéis intenções e, de um salto, postou-se junto do príncipe, salvando-o ainda desta vez.
O gigante deixou passar um pouco do tempo, depois tornou a conduzir o cego ao lugar mais perigoso do penhasco, certo de que dessa vez rolaria sem remissão para o abismo. O leão, porém, investiu prontamente contra o gigante, dando-lhe tamanho empurrão, que este caiu pelo despenhadeiro, indo esfacelar-se lá em baixo.
Segurando o pobre cego pela roupa, o leão levou-o ao pé de uma árvore, perto da qual corria um regato de águas cintilantes. O príncipe sentou-se e o leão, com a pata, colhia água e borrifava-lhe o rosto. Algumas gotas caíram-lhe nas órbitas, banhando-as, e, no mesmo instante, o cego recuperou a vista, não totalmente, mas o bastante para ver um passarinho que passou voando e batendo de encontro às árvores sem as ver; depois caiu na água, banhou-se e, em seguida, alçou voo e livrou-se no espaço sem mais esbarrar nos galhos, como se tivesse recuperado a vista.
Isto foi como um aviso do céu para o príncipe, que se curvou sobre o regato e lavou bem o rosto. Ao levantar-se, possuía novamente belos olhos, límpidos, e de visão bem clara, como jamais os tivera.
Então, ajoelhou-se, agradeceu piedosamente a Deus aquele milagre e continuou a jornada pelo mundo afora, acompanhado pelo fiel leão.
Depois de muito andar, foi ter a um castelo encantado, à porta do qual estava linda jovem, de porte gentil e de rosto muito gracioso, mas completamente preta.
- Ah, - disse ela dirigindo-se ao príncipe, - se pudesses libertar-me do malefício que me deitaram!
- Que devo fazer, para isso? - perguntou o príncipe.
A jovem respondeu:
- Tens de passar três noites no salão do castelo encantado, mas não deves permitir que o medo invada teu coração. Se te torturarem atrozmente, deves resistir sem um lamento; se o conseguires, estarei salva. Ninguém aqui poderá tirar-te a vida.
- Está bem, - disse o príncipe. - Eu não tenho medo de nada; com a ajuda de Deus, tentarei a prova.
Entrou, alegremente, no castelo e, quando caiu a noite, ficando tudo escuro, foi sentar-se no salão a espera dos acontecimentos. Até meia-noite, tudo permaneceu quieto e tranquilo; depois começou, subitamente, infernal algazarra, e de toda parte surgiram terríveis diabinhos, os quais, fingindo não ver o jovem, se sentaram no meio do salão, acenderam uma fogueira e puseram-se a jogar baralho. Quando um deles perdia, punha-se a berrar:
- Não está certo; há alguém aqui que não é dos nossos, é culpa dele se perco!
- Eh, tu aí atrás do fogão, espera que já vou! - dizia outro.
Os gritos aumentavam, progressivamente, e ninguém poderia ouvi-los sem morrer de medo. Mas o príncipe manteve-se sossegado, sem sombra de medo; exasperados, os diabinhos arremeteram contra ele e eram tão numerosos que lhe parecia impossível resistir. Atiraram- no ao chão, arrastaram-no de cá e de lá, beliscaram-no, espetaram-no, deram-lhe um mundo de pancadas e torturaram-no horrivelmente; mas de sua boca não escapou um único lamento.
Ao amanhecer, quando a luz começou a penetrar no salão, os diabos desapareceram, deixando o rapaz tão extenuado e pisado, que não podia sequer mexer um dedo. Não tardou muito, porém, e ele viu chegar a linda pretinha, trazendo na mão um frasco cheio de água vital; com as mãozinhas ágeis lavou-o muito bem com essa água e, imediatamente, desapareceram as contusões e toda e qualquer dor, invadindo-lhe as veias nova força.
Жил-был королевич, которому не полюбилось житье в отеческом доме, и так как он ничего на свете не боялся, то и подумал: "Дай-ка я пойду побродить по белу свету, душеньку свою потешу, диковинок всяких повидаю".
Простился он со своими родителями, пустился в путьдорогу и ехал с утра и до вечера, и ему было решительно все равно, куда приведет его дорога.
Случилось ему прибыть к дому великана, и так как он был очень утомлен, то присел около дверей его и стал отдыхать. Оглядевшись кругом себя, королевич увидел во дворе игрушки великана: пару громадных шаров и кегли величиной в рост человека.
Спустя немного вздумалось ему расставить те кегли и сбивать их шаром, и он радостно вскрикивал, когда те кегли падали, и веселился от души.
Великан услышал шум, выглянул в окошко и увидел человека, который был ничуть не больше других людей, а между тем играл его кеглями.
"Червяк! - воскликнул великан. - Как это можешь ты моими кеглями играть? Кто тебе такую силу дал?"
Королевич взглянул на великана и сказал: "Ах ты, болван! Или ты думаешь, что ты один силен на свете? Да вот я - я все могу, была бы лишь охота!"
Великан сошел вниз, с изумлением стал приглядываться к игре в кегли и сказал: "Человек! Коли ты точно таков, тогда пойди и добудь мне яблоко с дерева жизни". - "А на что оно тебе?" - спросил королевич. "Яблоко мне не для себя нужно, - отвечал великан. - Есть у меня невеста, которая очень желает его получить; но сколько я ни бродил по белу свету, а дерева того все отыскать не мог". - "Ну, так я отыщу его! - сказал королевич. - И не понимаю, что бы могло помешать мне то яблоко с ветки сорвать?" - "А ты думаешь, это легко? - спросил великан. - Тот сад, в котором дерево растет, окружен железной решеткой, а перед тою решеткою лежат рядком дикие звери и стерегут сад, и никого внутрь его не впускают". - "Меня-то впустят!" - самоуверенно сказал королевич. "Даже если ты и попадешь в сад и увидишь яблоко на дереве, добыть его все же мудрено: перед тем яблоком повешено кольцо, и через это кольцо нужно к яблоку руку протянуть, если желаешь яблоко достать и сорвать, а это еще никому не удавалось". - "Ну, а мне удастся", - сказал королевич.
Простился он с великаном, пошел по горам, по долам, по полям и долам и дошел наконец до волшебного сада.
И точно: вокруг него у решетки сплошным рядом лежали звери; но они склонили головы и спали.
Не проснулись они даже и тогда, когда королевич к ним подошел, и он переступил через них, перелез через решетку и благополучно пробрался в сад.
Посреди того сада стояло дерево жизни, и красные яблоки его так и рдели на ветвях!
Влез он по стволу вверх и чуть только хотел протянуть руку к одному из яблок, видит, что висит перед тем яблоком кольцо…
И он, не задумавшись, без всякого усилия просунул через то кольцо руку и сорвал яблоко с ветки…
Кольцо же крепко-накрепко обхватило его руку, и он вдруг почувствовал во всем теле своем громадную силу.
Когда королевич слез с яблоком с дерева, он уже не захотел перелезать через решетку, а ухватился за большие садовые ворота, встряхнул их разок - и ворота с треском распахнулись.
Он вышел из сада, и лев, лежавший перед воротами, проснулся и побежал за ним следом, но уже не дикий, не яростный - он кротко следовал за ним, как за своим господином.
Королевич принес великану обещанное яблоко и сказал: "Видишь, я достал его без всякого труда".
Великан, обрадованный тем, что его желание исполнилось так быстро, поспешил к своей невесте и отдал ей яблоко, которого она так сильно добивалась.
Но его невеста была прекрасная и умная девушка, и когда она не увидела кольца на его руке, то сказала; "Не поверю я, что ты сам добыл это яблоко, пока не увижу кольца на твоей руке". Великан сказал: "Мне стоит только сходить домой и принести его", - а сам про себя думал, что не мудрено будет у слабого человека отнять силою то, что он не захочет уступить добровольно.
И вот он потребовал кольцо от королевича; но тот не отдавал. "Ну, нет! Где яблоко - там и кольцо должно быть! - сказал великан. - И если ты мне не отдашь его добровольно, то должен со мною за то кольцо биться!"
Долго боролись они, но великан никак не мог совладать с королевичем, которому постоянно придавало силы его волшебное кольцо.
Вот тогда-то великан и пустился на коварную хитрость, и говорит он королевичу: "Очень уж я разогрелся от борьбы, да и ты тоже! Пойдем, искупаемся в реке и прохладимся, прежде чем снова бороться станем".
Королевич, не ведавший коварства, пошел с великаном к реке, вместе с одеждою снял и кольцо с руки своей и бросился в реку.
Великан же тотчас схватил кольцо и побежал с ним прочь; однако лев, заметивший кражу, тотчас пустился вслед за великаном, вырвал у него кольцо из рук и принес его своему господину.
Тогда великан потихоньку вернулся назад, спрятался позади дуба, росшего на берегу, и в то время, когда королевич стал одеваться, он напал на него и выколол ему оба глаза.
Вот бедный королевич и оказался слепым и беспомощным; а великан вновь подошел к нему, взял его за руку, словно хотел помочь ему, а сам отвел его на край высокой скалы.
Здесь великан его покинул, думая: "Вот, еще два шага переступит и убьется насмерть - тогда я и сниму с него кольцо".
Но верный лев не оставил своего господина, крепко ухватил его за одежду и полегоньку стянул его обратно со скалы.
Когда вернулся великан, чтобы ограбить насмерть убившегося королевича, он убедился, что хитрость не удалась ему. "Да неужели же нельзя ничем сгубить этого слабого человечишку!" - только проговорил он, ухватил королевича за руку и свел его по другой дороге к краю пропасти; но лев, приметив злой умысел, и на этот раз избавил королевича от опасности.
Подойдя к самому краю пропасти, великан выпустил руку слепца и хотел его оставить одного, но лев так толкнул великана, что тот сам полетел в пропасть и разбился насмерть.
Верное животное после этого снова сумело оттянуть своего господина от пропасти и привело его к дереву, у которого протекал чистый, прозрачный ручеек.
Королевич присел у ручья, а лев прилег на бережок и стал ему лапою обрызгивать из ручья лицо водою.
Едва только две капли той воды оросили глазные впадины королевича, он опять уже стал немного видеть и вдруг разглядел птичку, которая близехонько от него пролетела и ткнулась в ствол дерева; затем она опустилась к воде и окунулась в нее разок-другой - и уже взвилась легко и, не задевая за деревья, пролетела между ними, как будто вода вернула ей зрение.
В этом королевич увидел перст Божий - наклонился к воде ручья, стал в нем обмывать свои очи и окунать в воду лицо. И когда поднялся от воды, то его глаза оказались опять настолько светлыми и чистыми, как никогда прежде и не бывали.
Возблагодарил Бога королевич за великую милость и пошел со своим львом бродить по белу свету. И вот случилось ему прийти к заколдованному замку. В воротах замка стояла девушка, стройная и красивая собою, но совсем черная.
Она с ним заговорила и сказала: "О, если бы ты мог освободить меня от злых чар, тяготеющих надо мною!" - "А что я должен для этого сделать?" - спросил королевич. Девушка отвечала ему: "Три ночи должен ты провести в большом зале заколдованного замка, и страх не должен иметь доступа к твоему сердцу. Как бы тебя ни мучили, ты должен все выдержать, не испустив ни звука, - тогда я буду избавлена от чар! Знай притом, что жизни твоей у тебя не отнимут". - "Сердце мое не знает страха, - отвечал королевич, - попытаюсь, при Божьей помощи".
И он весело направился в замок; а когда стемнело, сел он в большом зале и стал ожидать.
До полуночи все было тихо; а в полночь поднялся в замке страшный шум, и изо всех углов явились во множестве маленькие чертенята. Они прикинулись, будто его не видят, расселись посреди зала, развели на полу огонь и принялись за игру.
Когда один из них проиграл, то сказал: "Не ладно дело! Затесался сюда один чужак, он и виноват в том, что я проигрываю". - "Погоди, сейчас приду, запечный бес!" - сказал другой.
А крик и шум, и гам все возрастали, и никто бы не мог их слышать без ужаса…
Но королевич сидел совершенно спокойно, и страх не брал его. Но вот все чертенята разом вскочили с земли и бросились на него, и было их так много, что он не мог с ними справиться. Они рвали его, таскали по земле, щипали, кололи, били и мучили, но он не произнес ни звука.
Под утро они исчезли, и он был до такой степени истомлен, что едва мог шевелиться.
Когда же рассвело, к нему взошла в залу черная девица. Она принесла ему бутылку с живою водою, обмыла его тою водою, и он тотчас почуял в себе наплыв новых сил, а все его боли стихли разом…
Девица сказала ему: "Одну-то ночь ты вынес благополучно, но тебе предстоят еще две".
Сказав это, она удалилась, и он успел заметить, что ее ноги уже побелели за эту ночь.
На следующую ночь опять явились черти и снова принялись за свою игру; потом снова напали на королевича и били, и мучили его еще более жестоко, нежели в предшествующую ночь, так что все его тело было покрыто ранами.
Но так как он все выносил молча, они наконец должны были от него отстать, а на заре явилась к нему черная девушка и исцелила его живой водой.
И когда она от него уходила, он с радостью увидел, что она успела побелеть до кончиков пальцев на руках.
Оставалось ему выдержать еще только одну ночь, но зато самую страшную!
Черти явились снова гурьбою…
"Ты все еще жив! - кричали они. - Тебя, значит, надо так измучить, чтобы из тебя и дух вон!"
Стали они его колоть и бить, стали бросать туда и сюда, таскать за руки и за ноги, словно бы хотели разорвать его на части: однако же он все вытерпел и звука не произнес.
Наконец они исчезли; но он уже лежал совсем обессиленный и не двигался; не мог он даже и век приподнять, чтобы взглянуть на девушку, которая вошла к нему и опрыскивала, и обильно обливала его живою водою.
И вдруг все боли в его теле как рукой сняло, и он почувствовал себя свежим и здоровым, словно очнувшимся от тягостного сна; когда же он открыл глаза, то увидел перед собою девушку - как снег белую и прекрасную как ясный день.
"Вставай, - сказала она, - да взмахни трижды своим мечом над лестницей и все чары сгинут разом".
И когда он это выполнил, весь замок разом был избавлен от чар, и девушка оказалась богатою королевною. Явились к ним и слуги, и заявили, что в большом зале стол уже накрыт и кушанья поданы.
Затем они уселись за стол, стали пить и есть вместе, а вечером того же дня сыграли и радостно отпраздновали свою свадьбу.