El gigante y el sastre


O gigante e o alfaiate


A un sastre que era tan fanfarrón como mal pagador, metiósele en la mollera el ir a dar una vuelta por el bosque. En cuanto le fue posible, abandonó su taller y se marchó.
Era uma vez um alfaiate que era grande fanfarrão, embora muito mau pagador. Certo dia, deu- lhe na telha sair pelo mundo afora. Logo que lhe foi possível, abandonou a oficina, cantarolando alegremente.

por pueblo y aldehuela,
Pelo caminho foi andando,

por puente y pasarela,
pelas pontes foi passando,

sin rumbo constante
tivesse ou não tivesse gente,

y siempre adelante.
para aqui para acolá,

Desde lejos descubrió en la azul lejanía una escarpada montaña y, detrás, una torre altísima, que sobresalía de una espesa y tenebrosa selva.
mas sempre para a frente.

- ¡Diablos! - exclamó el sastre -. ¿Qué será aquello? - e, impelido por una irrefrenable curiosidad, se dirigió al lugar con renovados bríos.
Quando saiu do recinto da cidade, avistou ao longe uma montanha pontiaguda e, no seu cume, uma torre tão alta que parecia furar o céu, a qual sobressaia do meio de uma grande floresta virgem.

Pero, ¡qué boca y qué ojos abrió cuando, al acercarse, vio que la torre tenía piernas y que, franqueando de un salto la abrupta montaña, plantóse ante él en figura de un terrible gigante!
Cáspite! - exclamou o alfaiate, - o que será aquilo?

- ¿Qué buscas aquí, mosquito deleznable? - gritóle el monstruo con voz semejante a un fragoroso trueno.
E, espicaçado pela curiosidade, foi correndo naquela direção. Mas ao chegar lá, abriu, imensamente, os olhos e a boca. A torre tinha pernas! E ela transpôs de um salto a montanha abrupta e estacou como enorme gigante diante do alfaiate.

Respondió, quedito, el sastre:
- Que vens procurar aqui, mosquitinho? - bradou com uma voz tão estentórea como o retumbar de um trovão. O alfaiate balbuciou trêmulo:

- Vine a dar una vuelta por el bosque, esperando poderme ganar en él un pedazo de pan.
- Estou vendo se me é possível ganhar um bocado de pão aí nessa floresta.

- Si tienes tiempo - replicó el gigante -, puedes entrar a mi servicio.
- Se esse é o teu intento, podes vir desde já trabalhar para mim, - disse o gigante.

- Si no hay otro remedio, ¿por qué no? ¿Qué salario me pagarás?
- Por quê não? Se for necessário irei! Mas qual será meu salário?

- ¿Qué salario? Voy a decírtelo. Trescientos sesenta y cinco días al año, y cuando el año sea bisiesto, un día más. ¿Te parece bien?
- Teu salário? - respondeu o gigante, - já o verás! Trezentos e sessenta e cinco dias por ano e mais um dia se o ano for bissexto; serve-te?

- Por mí, está bien - respondió el sastre, mientras pensaba:
- Que seja! - respondeu o alfaiate, e pensava consigo mesmo: "Deve-se esticar as pernas conforme o comprimento da coberta. Mas procurarei ver-me livre quanto antes."

"Hay que abrigarse según la manta. Ya buscaré el medio de escabullirme".
Então, o gigante disse-lhe:

Mandóle luego el gigante:
- Vai, velhaquete, e traze-me uma bilha de água.

- Anda, bribón, tráeme un jarro de agua.
- E por quê não o regato e mais a fonte toda? - perguntou o fanfarrão, e, pegando na bilha, foi buscar água.

- ¿Y por qué no el pozo con la fuente? - preguntó el fanfarrón, alejándose con el jarro a buscar el agua.
- O quê? O regato e a fonte toda? - resmungou o gigante por entre as barbas e, como era um tanto estúpido e tolo, ficou alarmado: "aquele malandro é muito sabido, sabe algo mais do que assar maçãs; provavelmente tom mandrágora no corpo. Cuidado, meu velho, esse não é criado para ti!"

- ¿Qué dices? ¿El pozo con la fuente? - gruñó el gigante, que era mentecato y torpe; y comenzó a sentir miedo. "Este tío sabe más que asar manzanas: lleva un diablo en el cuerpo. ¡Cuidado, viejo, no es éste un criado para ti!".
Quando o alfaiate lhe trouxe a água, o gigante mandou-o cortar algumas achas de lenha, a fim de levá-las para casa.

Cuando el sastre volvió con el agua, ordenóle el gigante que cortase un par de troncos y los llevase a su casa.
- Por quê não a floresta inteira de uma vez?

- ¿Por qué no el bosque entero de un hachazo,
A floresta toda inteira,

el bosque entero,
com as árvores velhas e novas

sin dejar un madero
e tudo o que ela contém.

ni liso, ni esquinado,
Liso e nodoso também?

ni recto, ni curvado?
perguntou o alfaiate, e foi rachar a lenha.

preguntó el sastrecillo, encaminándose a cortar la madera.
- O quê?

- ¿Qué dices?
A floresta toda inteira,

el bosque entero,
com as árvores velhas e novas

sin dejar un madero
e tudo o que ela contém.

ni liso, ni esquinado,
Liso e nodoso também?

ni recto, ni curvado?
- E mais o regato com a fonte? - resmungou por entre as barbas o crédulo gigante; e seu medo aumentou ainda mais: - "aquele velhaco sabe demais, tem com toda a certeza mandrágora no corpo! Cuidado, meu velho, esse não é bom criado para ti."

¿y luego el pozo con la fuente? -, murmuró, en sus barbas, el crédulo gigante, sintiendo crecer su miedo. "Este tío sabe algo más que asar manzanas: lleva un diablo en el cuerpo. Cuidado, viejo, no es un criado para ti".
Quando o alfaiate lhe trouxe a lenha, o gigante mandou-o caçar dois ou três porcos-do-mato para o jantar.

Cuando hubo terminado con la madera, mandóle su amo que cazase dos o tres jabalíes para la cena.
- Por quê não mil de uma vez e os demais também, com um só tiro? - perguntou o alfaiate farofeiro.

- ¿Y por qué no mil de un solo tiro y todos los que corren por ahí? - preguntó, envalentonado, el sastre.
- O quê? - exclamou assustadíssimo o gigante, tremendo de medo como um coelho: - por hoje basta; agora vai dormir.

- ¿Qué dices? - exclamó el gallina de gigante, aterrorizado-. Deja ya el trabajo por hoy, y vete a dormir.
O gigante, de tão amedrontado, não conseguiu pregar olho durante a noite toda, e ficou a pensar na maneira de livrar-se daquele maldito criado embruxado.

Era tal el miedo del gigantón, que en toda la noche no pudo pegar un ojo, y se la pasó cavilando cómo se las compondría para sacudirse aquel brujo de criado. El tiempo es buen consejero. A la mañana siguiente se fueron al borde de un pantano, a cuyo alrededor crecían numerosos sauces, y el gigante le dijo:
A noite é boa conselheira. Na manhã seguinte, o gigante e o alfaiate sairam e foram ter a um brejo todo cercado de salgueiros. Aí o gigante disse:

- Oye, sastre, siéntate sobre una de las varas de un sauce; me gustaría ver si eres capaz de doblarla.
- Escuta aqui, alfaiate, senta-te num galho desse salgueiro; eu gostaria de ver se és capaz de vergá-lo com o teu peso!

¡Up!, de un salto consiguió el sastre llegar arriba y, aguantando la respiración, convirtióse en lo bastante pesado para inclinar la rama. Pero cuando, no pudiendo resistir más, hubo de respirar de nuevo, y como fuera que no se le había ocurrido traerse una plancha en el bolsillo, salió disparado a tal altura, que se perdió de vista, con gran contento del gigante.
De um pulo o alfaiate encarapitou-se no galho; prendeu a respiração para ficar mais pesado, tão pesado que o galho dobrou-se até quase tocar o chão. Mas, infelizmente, teve de respirar de novo e, não tendo consigo o ferro de engomar, que sempre trazia no bolso, o galho ao voltar à sua posição normal, projetou-o a tal altura que nunca mais alguém o viu.

Y si no ha caído aún, es que todavía está flotando por los aires.
Se ainda não caiu no chão, deve estar certamente planando pelo espaço até agora.